Parafernália tecnológica: o Comandante e os meios de pagamento

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“[as carteiras digitais] me permitiram receber e fazer pagamentos, sem tocar em dinheiro, sem precisar abrir nova conta em banco e ainda ter de volta uma parte do que gastava, depositada em uma conta digital em meu nome”

 

O desafio do comerciante João Fontes, o Comandante, dono de uma pequena lanchonete no Distrito Federal, bem perto de onde eu moro, foi o mesmo de milhões de brasileiros em março deste ano: fazer o seu negócio sobreviver em meio à obrigação de fechar as portas físicas do estabelecimento por causa da pandemia.

“Da noite para o dia, perdi meu ganha pão”, resume. Preservar a saúde era essencial, mas o dinheiro também precisava entrar e, por isso, apostou em fazer lanches para entregas. A cada dia, ele me relata, foi uma novidade: passou a usar redes sociais para anunciar seus produtos, descobriu aplicativos de smartphones para entregá-los e os meios de pagamentos digitais que permitiam aos seus clientes não tocar em cédulas de dinheiro ou cartões. “Uma parafernália tecnológica!”, descreve o comerciante carioca, que resolveu começar a empreender após 30 anos de serviço na Marinha e ir para a reserva.

Carteiras digitais

O que mais o impressionou do que chamou de “parafernália” foram as chamadas carteiras digitais. Elas “me permitiram receber e fazer pagamentos, sem tocar em dinheiro, sem precisar abrir nova conta em banco e ainda ter de volta uma parte do que gastava, depositada em uma conta digital em meu nome”.

Como o pequeno empresário João, da capital federal, outros 3 milhões de brasileiros aderiram a uma carteira digital (PicPay, Iti, PayPal, Apple Pay, por exemplo, mas existem outras) somente no mês de abril (o primeiro mês cheio impactado pelas medidas de restrição necessárias por causa da pandemia), de acordo com dados do Instituto de Pesquisa & Data Analytics Croma Insights.

As carteiras digitais vêm ganhando força e presença nas discussões de tecnologia do mundo atual. No Brasil, especialmente, essa tendência tem sido altamente impulsionada por ações regulatórias do Banco Central. O objetivo é ampliar concorrência no segmento financeiro por meio da integração e padronização de sistemas tecnológicos. Reduzir o custo do dinheiro e do chamado spread (diferença entre o que as instituições pagam para captar os recursos e cobram para emprestar esses mesmos recursos) no crédito também são resultados esperados.

Essas empresas não apenas possibilitam a transação digital como oferecem benefícios aos consumidores que as utilizam. Foi o que encantou o Comandante ao ver que uma parte do que pagou usando a carteira digital voltou à sua conta, o chamado cashback. Essa mecânica de recompensa e fidelização dos usuários por meio da devolução pode ser, em alguns casos, depósito de dinheiro em conta ou cupons que as pessoas podem usar para realizar compras.

Isabel Sobral

Isabel Sobral

Jornalista, especializou-se na cobertura política e econômica em Brasília por grandes veículos como Estadão, O Globo, TV Bandeirantes, Jornal do Brasil. Integrou equipes de comunicação de órgãos como Ministérios da Fazenda, da Previdência, Conselho Nacional de Justiça, Superior Tribunal de Justiça.