Estamos em home office esperando feedbacks sobre nosso mais recente job. Os estudantes estão em homeschooling, aprendendo em guidelines disponiblizadas por seus professores. Os investidores torcem para que o circuit breaker não seja acionado em nenhuma Bolsa de Valores
Profissionais de comunicação e de RH têm um novo desafio: conciliar culturas de quatro gerações que, de forma inédita, dividem o mercado de trabalho. Diferentes sonhos, jeitos diferentes de agir, um novo modo de viver trazido pela pandemia e de encarar, cada um, o seu job. É isso job. Porque não dá mais para negar. Temos um novo idioma a nos ligar. É lockdown pra cá, live de sertanejo pra lá, home office pra todo lado, video call de manhã, de tarde e de noite, as mensagens mais particulares vão inbox, todo dia tem meeting com algum dos heads pra ajustar o mindset da companhia, headhunters buscando CEOs para startups, ou para um novo open bank…
E o pior… haters continuam inundando de fake news as redes sociais e os mobile phones (que nossos descobridores – que beleza – chamam de telemóveis) para tirar vantagem do precário sistema educacional que ainda deixa a maioria dos brasileiros como outsiders desse processo. E não tem outro jeito: ou nos adaptamos ou ficaremos tão isolados quanto quem testou positivo para Covid-19, que também nos chega em inglês: Corona Virus Disease 19.
É claro que precisamos de cuidados redobrados pra garantir a sobrevivência da última flor do Lácio cantada por Bilac e encantada por todos os Jorges Amados, Guimarães Rosas, Monteiros Lobatos, Machados de Assis, Ericos e Fernandos Veríssimos, Sérgios Santanas, Rubens Fonsecas e todos os outros que já foram ou que continuam por aí, cantando e soletrando a nossa língua brasileira.
(Afinal, há quem jogue o “portuglês” mais para trás e afirme que até o brasileiríssimo forró vem de for all, como definiam os bailes nordestinos os soldados americanos acantonados nas bases norte-americanas instaladas em Natal e Recife durante a Segunda Guerra. E, se alguém replica que forro vem de forrobodó, eles rebatem: pois é for all bodies…)
Voltemos aos tempos atuais. Não temos como negar esse “portuglês” que os ventos dessa new age empurram para dentro das empresas, das nossas casas e escolas na onda da globalização. Ou surfamos nela ou não vamos mais à praia (quando acabarem os lockouts, by the way…).
Esses avanços tecnológicos trazem, junto com vários problemas, desequilíbrios sociais. Um exemplo é a exigência cada vez maior de especialização da mão da obra num país de baixíssima formação profissional. Trazem também algumas vantagens. E uma delas é essa possibilidade de, num clique, encontrar um amigo, um parente, fazer uma compra, ler um livro, visitar um museu, ver um filme em qualquer lugar do mundo, fazer um curso à distância (e de graça). E até ser operado por um robô comandado pelo médico que está em outra cidade, ou despachar espermatozoides e óvulos para serem implantados em úteros de mulheres em outros países…
Outra vantagem é a nossa longevidade. A tecnologia nos deu mais tempo de vida produtiva. Pela primeira vez, três gerações ocupam espaço no mercado de trabalho (a quarta vem logo ali; por enquanto, está estagiando…).
E esse encontro provoca verdadeiras pororocas nas relações pessoais e empresariais. Já é comum (ou era, antes do coronavírus) a gente encontrar, numa mesma sala (agora, eles se encontram na mesma tela), um baby boomer ao lado de gente da Gerações X e Y e até da Z.
Baby boomer. Os nascidos entre 1946 e 1960, filhos da explosão demográfica pós-Segunda Guerra, na volta dos soldados para casa. Melhor chamá-los assim, em genuíno inglês, que os tratar por idosos, pessoal da terceira idade ou gente na melhor idade. Melhor do que véi, bro!, diria a Geração Z, essa que está recém chegando ao mercado e já põe hands on produtivos chats, de onde saem promissoras startups para todos os setores empresariais, do entertainment ao business.
Entre os baby boomers e a Geração Z, temos os X, filhos dos boomers, nascidos entre 1960/1970, e o millenials (ou Ys), nascidos nos anos 1980 e 1990. Todos juntos no mercado. Mas apartados por aspirações, sonhos e relações com o trabalho. Aos boomers interessava a fidelidade à empresa que, às vezes, levava até a recusar ofertas de melhores salário. Muitos dedicaram e ainda dedicam a vida profissional inteira ao mesmo empregador. São analógicos.
A Geração X já é mais ligada nas novidades, embora carregue alguma insegurança, medo de perder o emprego, consequência das turbulências políticas e econômicas que vivencia. E, também, tem mais facilidade para se adaptar a esses tempos digitais.
Junte aos boomers e aos Xs os millenials – ou Ys – e os Zs, que já nasceram digitais, e teremos os ingredientes de uma mistura de culturas e propósitos que precisa ser muito bem dosada para garantir um resultado homogêneo que traga resultado efetivo para empresas e governos (estes especialmente, já que o serviço público mistura culturas geracionais e até interesses ideológicos e partidários) e, principalmente, para os clientes deles: consumidores – e no fim das contas, mantenedores finais – da iniciativa privada, e pagadores de impostos – também mantenedores finais dos governo e seus empregados – consumidores de serviços públicos.
Desafio, dos grandes, para os profissionais de comunicação: fazer todo mundo olhar para o mesmo objetivo, onde está o resultado que atende todos.